|
This translation is courtesy of Alexandre Costa e Silva, who I thank for his efforts. The original translation can be accessed here.
O espectro de gênero é uma compreensão de que gênero não é binário (feminino/masculino), mas sim um espectro de traços biológicos, mentais e emocionais que existem ao longo de um continuum.
Em contraste, o binarismo de gênero ou generismo, é a crença de que o gênero é composto por dois gêneros distintos e opostos (feminino e masculino) nos quais não há sobreposição.
Infelizmente para aqueles que acreditam em um binarismo de gênero, ele não é cientifica ou clinicamente correto.
Hoje, vários campos científicos, incluindo a biologia, endocrinologia, fisiologia, genética, neurociência e ciência reprodutiva, confirmam que sexo e gênero existem como um espectro, tanto para os humanos quanto para o reino animal.
Sexo (e gênero) são bimodais, não binários
Por muito tempo, o governo, o sistema médico e até mesmo nossos pais assumiram que sexo (e gênero) são binários. Com base na ciência, isso não é biologica ou medicamente correto.
O que é verdade é que as características sexuais tendem a ser bimodais, o que significa que há grupos de características que tendem a ser associadas a pessoas que chamamos de “mulheres” ou “homens”.
Em média, os homens têm pênis e, em média, as mulheres têm vaginas, que é o que permite a reprodução. No entanto, existem muitos exemplos em que este não é o caso, como pessoas intersexuais. Os genitais externos (um marcador biológico do sexo) estão presentes em um espectro de pênis de tamanho normal a pênis pequeno, a micropênis, a clitoromegalia, a clitóris aumentado e a clitóris de tamanho padrão.
Em média, os homens tendem a ter cromossomos XY e as mulheres tendem a ter cromossomos XX. No entanto, os cromossomos sexuais também existem em uma ampla variedade, com pelo menos 16 variações diferentes de ocorrência natural (veja os detalhes abaixo). Isso significa que a apresentação cromossômica também não é binária.
Em média, os homens também tendem a ter mais pelos faciais e corporais do que as mulheres (uma característica sexual secundária), mas também há mulheres com pelos corporais grossos e densos e homens que não conseguem deixar a barba cheia.
Em média, os homens tendem a ser mais altos do que as mulheres, mas certamente há mulheres mais altas do que alguns homens. Se a estrutura do esqueleto (um marcador biológico do sexo) fosse binária, todos os homens teriam de ser mais altos do que todas as mulheres, o que, obviamente, não são.
Conforme explicado por esses exemplos, o gênero não é binário, porque não pode ser agrupado em dois grupos separados e não sobrepostos.
No entanto, as características sexuais bimodais não são incomuns. Bimodal significa a presença de duas (“bi”) modas estatísticas, que podem ser vistos como picos em um gráfico. As duas modas representam grupos de probabilidade.
No que diz respeito ao sexo humano, isso significa que, para algumas características sexuais, pode haver normas comuns entre as pessoas que tendemos a designar como “masculino” e “feminino”, mas também há claramente sobreposições presentes entre os picos. Isso é o que torna o sexo (e gênero) bimodal, e não binário.
Finalmente, sob o risco de se tornar muito matemática, uma distribuição bimodal é, por definição, uma distribuição de probabilidade contínua com duas modas diferentes. Em outras palavras, é um espectro que possui “cachos” (‘clusters’).
A diferença entre sexo e gênero
Ao descrever os termos sexo e gênero, é importante notar que dentro da cultura ocidental a palavra “sexo” descreve diferenças biológicas entre as pessoas (homem, mulher, intersexo, etc.), enquanto o termo “gênero” é um termo mais amplo que reflete como uma pessoa vive em sociedade (ou seja, identidade de gênero).
Apesar das opções binárias na maioria dos IDs estaduais e federais, seu sexo biológico pode ser variável.
Isso é verdade para pessoas que são intersexuais e provavelmente para outras também. Intersexual significa que uma pessoa nasceu com variações em suas características sexuais, incluindo, mas não limitando-se a órgãos genitais internos e externos, gônadas, cromossomos, hormônios, estrutura cerebral e muito mais.
Pesquisas atuais estimam que pessoas intersexuais constituem 1,7% da população , o que torna ser intersexual tão comum quanto ter cabelos ruivos.
No entanto, essa métrica é subestimada pelos seguintes motivos:
- Nem todos os médicos, pais ou indivíduos divulgam essas informações médicas.
- Existem formas sutis de variação sexual que não aparecem até mais tarde na vida e que não são documentadas.
- As definições do que é intersexualidade não chegaram a um consenso. A Intersex Society of North America usa os seguintes exemplos: “Quão pequeno deve ser um pênis para ser considerado intersexual? Você conta as variações dos cromossomos sexuais se não houver ambigüidade sexual externa?”
Resumindo, é lamentável que documentos federais e estaduais geralmente usem órgãos genitais externos para fazer uma atribuição de sexo binário (masculino / feminino), porque para muitas pessoas esta é uma descrição imprecisa ou incompleta.
Sexo e gênero
Mesmo sexo e gênero não são totalmente separados um do outro. Em muitas culturas, eles estão interligados.
Exemplos disso incluem:
- Pessoas com dois espíritos para nativos americanos / povos das Primeiras Nações
- Hijra para pessoas do sul da Ásia (também conhecido como Kinnar ou Kinner)
- Māhū para as culturas Kanaka Maoli (havaiana) e maohi (taitiana)
- Fakaleiti para tonganeses
- Ffa’afafine para Samoanos
- E muitos outros
Uma das pessoas que fez um trabalho fenomenal de desconstruir o conceito de que sexo e gênero são separados é Alok Vaid-Menon .
Alok descreve a ideia predominante de que o gênero é “cultural” e exterior e o sexo é “biológico”, negligenciando o fato de que o sexo biológico também é cultural. Alok explica que, em contraste com as crenças ocidentais, muitas outras culturas não percebem as roupas ou adornos como um suplemento ao corpo, mas como algo fundamental para sua constituição.
Por que um espectro de sexo e gênero?
Como uma pessoa não binária, já ouvi pessoas dizerem coisas como: “O gênero é determinado pelo que está em suas calças. Se você tem um pênis, você é um homem. Se você tem uma vagina, você é uma mulher.”
No entanto, como cientista, posso dizer que tanto o sexo quanto o gênero são complexos e, em todas as espécies, existem como espectro.
Atualmente, o sexo é atribuído ao nascimento com base na genitália externa, mas existem pelo menos 10 marcadores de sexo clinicamente precisos (e provavelmente mais).
Os marcadores biológicos de sexo incluem:
- Cromossomos – Tipos de expressão cromossômica.
- Gônadas – órgãos que produzem gametas (testículos ou ovários).
- Hormônios – tipos e nível de secreção de hormônios, que variam dentro e entre os sexos.
- Características sexuais secundárias – características que aparecem durante a puberdade, mas não estão relacionadas com a reprodução.
- Genitália Externa – Genitais visíveis fora do corpo.
- Genitália Interna – Genitais presentes dentro do corpo.
- Estrutura Esquelética – Diferenças de sexo podem ser vistas na pelve, osso da mandíbula, sobrancelha e comprimento e espessura dos membros.
- Expressão gênica – Níveis e tipos de expressão gênica. Os genes ditam as proteínas produzidas pelo corpo. Os genes conhecidos que afetam o sexo incluem DMRT1, SRY (produz o fator determinante do testículo) e Foxl 2.
- Estrutura do cérebro – as características da estrutura do cérebro (incluindo a proporção da matéria branca para a massa cinzenta) e os padrões de ativação do cérebro variam de acordo com o sexo.
- Identidade pessoal – como uma pessoa se identifica. Muitas vezes é o resultado da interação de outros fatores, tornando-se um marcador valioso.
Por que os genitais não determinam o sexo
No que diz respeito a atribuir sexo às pessoas por meio de sua genitália externa, é um sistema impreciso, na melhor das hipóteses. Existem vários motivos para isso, conforme descrito a seguir.
1. A genitália externa é diversa
Em humanos recém-nascidos, os órgãos genitais são extremamente diversos em tamanho e forma. Até entre a sétima e a oitava semana de gravidez, todos os fetos apresentam o que é conhecido como “crista genital”.
Essa crista genital é o tecido que eventualmente se tornará os órgãos sexuais.
No momento do nascimento, os órgãos genitais de um recém-nascido são geralmente rotulados por um médico como masculino ou feminino, mesmo se o recém-nascido apresentar órgãos sexuais ou características intersexuais, ambíguas ou indefinidas. Em alguns lugares, como Ontário (Canadá), 11 estados dos EUA e Washington, DC, agora existem opções “não binárias” ou de “gênero não especificado”, mas isso ainda não é a norma.
Todos os órgãos sexuais vêm da mesma crista genital, com os testículos nos homens sendo equivalentes aos lábios e ovários nas mulheres e o pênis sendo equivalente ao clitóris.
É por isso que o pênis e a vagina não existem como binários, mas sim como um espectro que inclui o seguinte:
- Pênis de tamanho normal
- Pênis pequeno
- Micropênis
- Clitoromegalia, também chamada de “Pseudopênis”
- Clitóris aumentado
- Clitóris de tamanho padrão
2. Existência de Pessoas Intersexuais
Intersexual significa que uma pessoa nasceu com variações em suas características sexuais, como os marcadores biológicos descritos acima, incluindo, mas não se limitando a órgãos genitais internos e externos, gônadas, cromossomos, níveis hormonais e estrutura cerebral.
Pessoas intersexuais são a prova biológica de que o sexo não é binário.
E quanto aos cromossomos?
Embora os cromossomos sejam outra característica biológica que algumas pessoas tentam usar para explicar o gênero binário, os cromossomos também são variados e diversos na espécie humana. Em média, a maioria das pessoas designadas como homem ao nascer tem cromossomos XY, enquanto a maioria das pessoas designadas como mulher ao nascer tem cromossomos XX.
No entanto, outras variações cromossômicas sexuais freqüentemente existem como resultado da perda, dano ou adição de um ou de ambos os cromossomos sexuais.
Cromossomos e gênero
Em humanos, as seguintes variações de cromossomos sexuais ocorrem naturalmente:
- 45, X, também chamada de síndrome de Turner
- 45, X / 46, também chamado de mosaicismo XY
- 46, XX / XY
- 47, XXX, também chamada de Trissomia X
- 47, XXY, também chamada de síndrome de Klinefelter
- 47, XYY com fenótipo normal
- 48, XXXX
- 48, XXXY
- 48, XXYY
- 49, XXXXY
- 49, XXXXX
- Síndrome Masculina XX
- Disgenesia Gonadal XX
- Disgenesia Gonadal XY
Onde a disgenesia gonadal está listada acima, ela se refere ao tecido reprodutivo (gônadas) sendo substituído por tecido fibroso não reprodutivo durante o desenvolvimento pré-natal.
Gênero e o Cérebro
O cérebro é outro marcador biológico do sexo que se apresenta com grande diversidade, apoiando ainda mais o conceito de espectro de gênero.
Em um estudo fascinante publicado em maio de 2018 pela European Society of Endocrinology, pesquisadores descobriram: “A atividade e a estrutura do cérebro em adolescentes transexuais se assemelha mais aos padrões de ativação típicos do sexo desejado”.
Quando os exames de ressonância magnética de 160 jovens transgêneros foram analisados usando uma técnica chamada imagem por tensor de difusão, os cérebros dos meninos transgêneros ‘se assemelhavam aos dos meninos cisgêneros’, enquanto os cérebros das meninas transgêneros se assemelhavam aos das meninas cisgêneros.
Simplificando, o cérebro das crianças trans se assemelha à sua identidade de gênero e não ao seu sexo biológico.
Cisgênero significa que a identidade de gênero de uma pessoa se alinha com o sexo atribuído a ela no nascimento, enquanto transgênero significa que a identidade de gênero de uma pessoa não se alinha com o sexo atribuído a ela no nascimento.
Gênero e o cérebro
Conforme afirmado por Julie Bakker, pesquisadora-chefe da Universidade de Liege, “Agora temos evidências de que a diferenciação sexual do cérebro difere em jovens com disforia de gênero, pois eles apresentam características cerebrais funcionais típicas do gênero desejado”.
Este estudo explorou os cérebros de meninas cis, meninos cis, meninas trans e meninos trans. O próximo passo é que mais sexos e gêneros se tornem integrados nesta pesquisa neurocientífica.
O papel da mente vs. o cérebro
Claro, o cérebro e a mente também são duas coisas diferentes.
O cérebro é a estrutura física em sua cabeça que é composta de matéria cinzenta e branca, tem neurônios disparando dentro dela e usa neurotransmissores como mensageiros químicos.
O cérebro pode ser considerado o seu processador central, porque integra e facilita todas as funções do seu corpo.
Conforme observado por Julie Bakker (pesquisadora principal no estudo de ressonância magnética acima) e outros, a estrutura do cérebro e os padrões de ativação estão presentes ao longo de um espectro.
A mente, por outro lado, é o produto consciente dessa atividade biológica que cria emoções, idéias, memórias, interpretações e pensamento criativo.
Ele determina sua personalidade, desempenha um papel na forma como você prefere se apresentar e impacta em como você interage com o mundo. A mente desempenha um papel central em sua identidade de gênero.
Identificação do sexo no nascimento
Conforme descrito acima, os órgãos genitais externos não são um marcador preciso de sexo para usar no nascimento, porque eles são um de pelo menos 10 marcadores biológicos diferentes de sexo.
Os órgãos genitais externos também variam muito em nossa espécie, podem ser ambíguos e podem ter órgãos sexuais masculinos e femininos presentes.
Além disso, a atribuição de sexo no nascimento com base em órgãos genitais externos permite que um obstetra/ginecologista integre informações sobre os órgãos genitais, gônadas, cromossomos internos da criança, expressão gênica, estrutura cerebral ou, o que é mais importante, como a criança crescerá e se expressará na sociedade.
Embora não me oponha à opção de registrar o sexo na certidão de nascimento de uma criança, sou contra:
- A exigência de que os pais selecionem um sexo para seu filho. Os pais devem ser autorizados a não indicar o sexo de seus filhos se essa for sua preferência.
- Opções binárias para sexo , quando está claro que o sexo existe em um espectro. No mínimo, deve haver a opção de escolher Feminino (F), Masculino (M) ou (X) para todos os outros gêneros.
- Esse sexo sendo colado a uma criança para o resto de sua vida, a menos que eles apresentem documentos médicos para provar o contrário.
Gênero não é binário
Diversidade de gênero em todo o reino animal
Finalmente, a diversidade de gênero está amplamente presente em todo o reino animal. Por exemplo, cavalos-marinhos , peixes-cachimbo e dragões-marinhos, todos têm a gravidez como um processo reprodutivo masculino. Nessas espécies, o macho fertiliza óvulos que são depositados em uma bolsa em sua barriga e carrega seus embriões em desenvolvimento até que estejam prontos para o parto.
Em outro exemplo, as hienas pintadas fêmeas têm um pseudopênis que é capaz de ereção e pode ter até 90% do tamanho do pênis de uma hiena masculina.
Eles têm duas massas carnudas na base do pseudopênis que contêm gordura e tecido conjuntivo que parecem análogos a um escroto. Onde você esperaria que houvesse uma vagina, as fêmeas das hienas pintadas têm os lábios fundidos. As hienas pintadas fêmeas também dominam os machos comportamentalmente.
As galinhas também podem sofrer naturalmente mudanças de gênero. Isso ocorre porque as galinhas fêmeas usam apenas um ovário funcional em seu lado esquerdo. No entanto, eles têm dois órgãos sexuais que estão presentes desde o estágio embrionário até o fim de sua vida. Se o ovário esquerdo encolher dentro de uma galinha, sua gônada direita pode começar a secretar andrógenos, transformando a galinha em um galo.
Em suma, sexo e gênero existem como um espectro para humanos e animais (e de fato, plantas também). Podemos muito bem abraçá-lo, porque afinal, a variação natural causou a ascensão de nossa espécie para 7,7 bilhões de pessoas!
BIOGRAFIA RESUMIDA DO AUTOR
Cade Hildreth frequentou o Dartmouth College & Smith College para estudos de graduação em biologia e, em seguida, obteve um mestrado em bioquímica e biologia molecular com especialização em biotecnologia pela Georgetown University. Cade é fundador/presidente do BioInformant.com, o maior site de notícias da indústria de células-tronco do mundo que atrai quase um milhão de visualizações por ano e atende a clientes renomados que incluem GE Healthcare, Pfizer, Goldman Sachs, PerkinElmer e Merck. Cade é autor de mais de mil artigos sobre a indústria de células-tronco e entrevistou centenas de executivos de toda a indústria.
Como especialista em mídia em células-tronco, Cade foi entrevistado peloWall Street Journal, Los Angeles Business Journal, Xconomy e Vogue Magazine. Como investidor imobiliário profissional, o Cade possui um portfólio de propriedades residenciais e comerciais.